Doze meses: Episódio 3
Da Itália chegavam as notícias mais tristes. Trancada em casa, a única coisa que me acalmava era ficar ligada dia e noite nos noticiários. A pandemia era algo novo, nunca vivido. Sem dar ouvidos ao meu marido que apontava o perigo desta cegueira, me afundei nas notícias e depois de quinze dias comecei a manifestar os primeiros sintomas da síndrome do pânico. Palpitações, sudorese, dor de barriga, vertigens. Para piorar a discórdia que se instalava entre os familiares. Uns tinham pavor, outros tinham medo e alguns poucos não acreditavam, enquanto eu tentava conciliar tudo. Tinha esperança de voltar rápido para o trabalho depois desta paralização que eu considerava momentânea. Com o fim do lockdown e meu trabalho já configurado como risco, percebi o abismo que se avizinhava. O pânico estava me levando e ainda sorrindo na minha cara. Numa manhã, com fortes dores de barriga e com a respiração ofegante, lembrei de um exercício que minha terapeuta havia passado quando eu tive a primeira crise de pânico. Peguei o papel que mantive guardado em uma gaveta e dei início ao exercício de respiração. Depois de respirar com mais facilidade, assumi o compromisso comigo de bloquear e excluir os vídeos e notícias recebidos da Europa. Ainda estávamos tranquilos por estas paragens até que o primeiro caso surgiu numa pequena cidade vizinha. Como o vírus tinha atravessado o oceano e chegado aqui? Se aproximava da gente, agora. Contudo, eram apenas notícias. Continuava os exercícios e tomava um chá pela manhã, tarde e noite na tentativa de me acalmar. Com o primeiro óbito, minha crise voltou e percebi que era hora de mudar o foco completamente. Nesta altura já não via meus irmãos e sobrinhos e isto me maltratava ainda mais. Tinha medo de morrer e não os ver. Temia por eles e por meus filhos. Alguns ainda continuavam não acreditando. Até o próximo episódio.